Boas práticas na intervenção ABA

Por muito tempo criou-se o mito de que a terapia deveria contemplar momentos descontraídos, não diretivos, que permitissem as pessoas falarem de seus sentimentos, pensamentos de forma deliberada. Ou, expressassem suas emoções por meio de pinturas, desenhos e brincadeiras sem contextos específicos.
No entanto, estudos recentes, apresentam um novo olhar a partir da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), em especial para tratamento de indivíduos no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma intervenção que visa aumentar a probabilidade de tornar-se eficaz baseando-se em ciência, considerando todos os elementos envolvidos no processo. Fornecer esse modelo de intervenção baseada em princípios da análise do comportamento aplicada, vai muito além do cenário terapeuta/cliente/clínica.
Quando falamos prática em análise do comportamento com base nas dimensões da ABA, é essencial questionar a aplicação pratica dela dentro na realidade de vida de quem direcionamos essa intervenção, seu contexto social, escolar familiar. Para isso, deve-se garantir relevância daquilo que é ensinado, além de se utilizar a tecnologia ou técnica mais adequada para realizar isso
Para além de técnicas e boa intenção
Além da eficácia das técnicas, sua relevância social e o valor da mudança, é crucial, e o mesmo pode ser dito sobre uma abordagem compassiva e ética. Pensando nisso é interessante refletir sobre como as dimensões da análise do comportamento, devem sempre fundamentar as intervenções intituladas “baseadas em ABA”
1 - Aplicada:
Quais comportamentos estamos visando?
Qual a prioridade em mudar esses comportamentos para esses clientes?
2 - Comportamental:
Nossas medidas são precisas?
As descrições do comportamento são entendidas por diferentes pessoas?
3 - Analítica:
Podemos ter certeza de que uma variável especifica é responsável pelo comportamento estudado?
Como garantimos essa resposta?
4 - Tecnológica:
As técnicas que usamos foram identificadas?
Eu descrevi o procedimento de maneira precisa para que outra pessoa possa reproduzi-los?
5 - Conceitualmente Sistemática:
O conceito que estou usando está completamente descrito?
O principio que estou aplicando é teoricamente relevante?
Existente uma relação clara entre minha pesquisa e o princípio descrito?
6 - Eficaz:
As técnicas comportamentos que estamos aplicando tem efeitos positivos na prática?
A mudança no comportamento é socialmente relevante para o indivíduo?
A mudança é valiosa o suficiente para a área ou para quem está lidando com o problema.
7 -Generalizável:
Essa mudança comportamental persiste ao longo do tempo?
Ela se estende a uma variedade de comportamentos relacionados?
A aplicação da mudança ocorra em outros contextos?
8 - Compaixão:
Meu serviço beneficia quem está sendo atendido?
Eu trato os clientes com compaixão, respeito e dignidade?
Me comporto com integridade?
Eu garanto minha competência procurando me aprimorar conforme surgem novos conhecimentos na área?
Quando tratamos de implementação, entramos no campo da atuação técnica da equipe e por sua vez toda clínica. É com distinguir um bom modelo de intervenção clínica e outros equivocados? Nesse cenário devemos visualizar alguns pontos que devem estar presentes no trabalho da equipe, como:
Avaliação Inicial: primeiro passo na implementação da ABA. Ela envolve uma análise abrangente das habilidades e deficiências da pessoa autista, afim de identificar áreas de foco e estabelecer uma linha de base para o desenvolvimento do plano de intervenção.
Metas quantificáveis: Estabelecer metas claras e mensuráveis é crucial. Essas metas especificas permitem avaliar o progresso e ajustar o plano de intervenção com base em dados objetivos.
Objetivos por escrito: São estabelecidos para abordar tanto as áreas em que pessoa apresenta déficits como aquelas em que ocorrem excessos de comportamentos indesejados. Ter objetivos claros ajuda a direcionar o tratamento de maneira efetiva.
Reavaliação constante: A reavaliação constante é essencial na ABA para monitorar o progresso e fazer ajustes necessários. À medida que a pessoa autista alcança metas ou enfrenta novos desafios, é importante revisar e adaptar o plano de intervenção para garantir a eficácia continua do tratamento.
Registro de dados: é uma pratica central na terapia ABA, os profissionais coletam informações detalhadas sobre os comportamentos alvo, incluindo frequência, duração e intensidade. Esses dados são fundamentais para avaliar o progresso identificar padrões e tomar decisões informadas sobre a intervenção.
Planejamento e dados para generalização: ABA busca sempre alcançar a generalização dos comportamentos aprendidos em diversos contextos e situações. Para isso, é necessário um planejamento cuidadoso e o suo de estratégias para facilitar transferência dos comportamentos alvo para fora do ambiente de intervenção.
Horas intensivas: A ABA é conhecida por sua ênfase em horas intensivas da intervenção. Isso significa que a pessoa autista recebe um alto número de horas de intervenção estruturada por semana, o que proporciona mais oportunidades de aprendizado.
Diferentes formatos para diferentes objetivos: A aba reconhece que diferentes objetivos podem requer abordagens distintas. Por isso, são utilizados diferentes formatos de intervenção, como ensino discreto, modelagem, aprendizagem incidental, treino naturalístico, entre outras, de acordo com as necessidades especificas de cada objetivos.
Interface com a escola e família: a colaboração com a escola e família, se caracteriza como uma peça central para o sucesso da intervenção, modificando de forma proativa cada ambiente de convívio para a consistência e a generalização dos comportamentos alvo, além de permitir uma abordagem mais abrangente no apoio ao desenvolvimento.
Fonte: https://doi.org/10.1007/s40617-023-00898-7
Por:
João Carreira, Esp. Psicopedagogia baseada em ABA, Pedagogo, AC, Supervisor de Equipe Multiprofissional do INPS.
Maria Aires, Psicóloga, Esp. TCC e Abordagens Contextuais aplicadas ao TEA, Gerente de Gestão Integrada do INPS